O Auto da Barca do Inferno é uma moralidade, ou seja, um dos géneros mais importantes do teatro medieval. Caracteriza-se por uma separação muito clara entre o Bem e o Mal, pela presença de figuras alegóricas e pela forte intenção didática.
Neste caso concreto, o objetivo parece ser o de mostrar dois caminhos: o que conduz à perdição do Inferno e o que pode garantir o acesso à Salvação. As personagens condenadas são muito mais numerosas do que aquelas que se salvam. Cada uma delas representa um tipo social e por isso eram bem reconhecíveis pelos espetadores da época: Fidalgo, Frade, figuras da Justiça, Enforcado, Alcoviteira, Sapateiro, Judeu todos eram familiares a quem assistia à peça na corte portuguesa do século XVI. De uma certa forma, pode dizer-se que o espetador se revia nas figuras que iam desfilando e embarcavam na Barca do Diabo.
Gil Vicente e João Miguel Lameiras
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