«Ainda que firmados em dois projetos literários diferentes, em dois tempos mentais diferentes, quase antagónicos, se não mesmo contraditórios, duas caraterísticas são comuns a Pessoa e a Saramago:
- A total transgressão dos códigos estéticos do seu tempo, balizando um novo vinco na história da literatura;
- Uma representação absolutamente original da língua, do homem e da sociedade - Pessoa, da crise do sujeito literário e existencial do princípio do século, respondendo com a originalíssima multiplicação da identidade autoral e narrativa; Saramago, da situação crítica do mundo ocidental no final do século, postulando uma escrita que funde o romance com o ensaio, uma escrita que não intenta apenas revelar o mundo, mas sobretudo, usando a sua visão pessoal do mundo, problematizá-lo, complexificando o estatuto do narrador, incorporando neste o autor.»
É assim que Miguel Real, conhecido ficcionista, crítico literário e ensaísta, que há mais de vinte anos se dedica ao estudo de autores e pensadores portugueses, resume o presente ensaio que, partindo de uma conferência realizada no México, trata do que é próprio e afim.
Miguel Real
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