O mundo em que vivemos mostra-se nebuloso e sombrio, escorregadio e líquido, sem rostos, sem referências, sem pradarias, sem caminhos, sem fontes e sem céu. Parece que também sem chão. É um mundo assente no senhor «eu» penso, quero, posso, mando, compro, sou visto. «Eu» em nominativo, dono de tudo, sozinho no meio de objetos, que não se recebe de ninguém: sem umbigo, portanto sem mãe; sem fé, portanto sem Deus; excesso e abcesso de autonomia, sem nenhuma heteronomia, alteridade ou exterioridade. Sete biliões de senhores e de solidões alérgicas.
Esta é uma reflexão de D. António Couto, Bispo de Lamego, que nesta obra defende que conceitos como responsabilidade, liberdade, alteridade, socialidade, hospitalidade, mandamento, obediência ganhem hoje novas tonalidades e articulações. E também se compreende bem, neste patamar, o suporte líquido das ideologias do género, eutanásia...
António Couto
2020-02