É sobejamente conhecida a morte do sábio Sócrates, bebendo sem hesitação a taça de cicuta, enquanto explicava em pormenor aos seus amigos o que acontece à alma assim que se separa do corpo. Já Platão, que nos relata o episódio, morreu no dia do seu octogésimo primeiro aniversário, alcançando prodigiosamente com a sua vida um perfeitíssimo número: o nove multiplicado por nove. Fins bem diferentes tiveram o dissoluto imperador Heliogábalo, encontrado escondido numa latrina pela guarda pretoriana e cujo corpo nu e decepado foi arrastado pelas ruas de Roma e atirado da Ponte Emília para o Tibre, e o grande orador Cícero, cuja cabeça e mão direita - com a qual havia escrito as Filípicas - foi ordenado que fossem levadas ao próprio imperador Augusto, para grande regozijo deste. Eis alguns dos casos exemplares de mortes admiráveis que a Antiguidade Grega e Latina nos deixou.
Livro singular, fascinante e poético, Mortes Fabulosas dos Antigos conjuga erudição e arte de narrar, reunindo, como num repertório, tão rigoroso quanto fabuloso, mortes de poetas, pensadores, atletas, reis, tiranos, de povos, cidades e exércitos inteiros, mas também mortes por homicídios selvagens, pela mão de familiares, por suicídio a contragosto, repentinas, ou mesmo aparentes, da literatura clássica.